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Avaliação do efeito de um produto a base de Passiflora incarnata Linné sobre o comportamento agre

Osorio, Ricardo de Oliveira; Galdino, Julio César Almeida; Aquino, Melissa Faena Sodré

 

Resumo

O presente estudo teve como objetivo avaliar a eficácia clínica do produto Fórmula Maracujá®, que tem por base extratos naturais de Passiflora incarnata Linné como agente capaz de controlar e amenizar o comportamento agressivo dos animais albergados no canil do Centro de Controle de Zoonoses de Conchal – SP.

Para este fim, foram utilizados como parâmetros a avaliação clínica e comportamental diária de 20 cães, analisando a ocorrência de brigas e seu grau de intensidade. Foi realizada também a coleta de sangue dos animais para um hemograma completo com ênfase na contagem total de leucócitos (absoluta e relativa).

O produto foi administrado para 10 cães por 57 dias e durante esse período foi possível notar uma redução significativa da agressividade dos cães em tratamento. Os principais resultados encontrados nos animais tratados foram uma menor leucocitose, uma observação empírica de menores índices de ocorrência de agressões e problemas comportamentais, uma redução nos escores de agressividades e na comparação entre esses escores nos dias 16 e 41.

Concluiu-se que o produto Fórmula Maracujá® apresentou efeitos benéficos aos animais sem apresentar efeitos adversos comprovando assim sua eficácia diante da redução do estresse.

 

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido no canil do Centro de Controle de Zoonoses de Conchal – SP. A lotação foi de 10 animais em cada baia e a alimentação de todos foi feita com a mesma ração e na mesma frequência, enquanto a água ficava à disposição em tempo integral.

Cães de ambos os sexos, com idade entre 2-6 anos, castrados, sem raça definida e em bom estado de saúde geral. Os animais foram separados em grupos de acordo com os seguintes fatores: sexo, peso e grau de agressividade.

O grau de agressividade foi avaliado através de uma ficha individual, adaptado a partir do proposto por SOARES (2010), onde perguntas relacionadas com o comportamento do animal foram respondidas numa escala de 0 (sem agressão) e 4 (agressão séria).

Grupo experimental: composto por 10 animais, sendo 1 macho e 9 fêmeas com grau médio de agressividade e que receberam o tratamento com o produto Fórmula Maracujá®; sendo que a dose diária inicial foi de 0,5 g/kg, duas vezes ao dia;

Grupo controle: composto por 10 animais, sendo 3 machos e 7 fêmeas com grau médio de agressividade e que não receberam o tratamento com o produto Fórmula Maracujá®.

Antes do início da pesquisa (dia -14), foi feita a coleta de sangue dos animais para a realização de um hemograma completo. Após 55 dias (dia 41) foram realizadas novas coletas para verificar se houve alteração dos valores primeiramente obtidos, avaliando assim, se o tratamento com Fórmula Maracujá® trouxe benefícios para o grupo experimental.

 

Resultados

Foi realizada a totalização do número de ocorrências entre os animais, separados pelos seus grupos experimentais, somando-se o número das ocorrências leves (rosnados e intimidações) com as classificadas como severas (brigas efetivas). Foram realizados os testes estatísticos ANOVA e T-Student, mas, no entanto, não foi possível constatar efeito do tratamento.

Já quanto a análise do escore de agressividade levantado de acordo com o protocolo proposto por Soares (2010), para efeito da comparação entre os grupos, foram realizadas 3 avaliações: nos dias -14, 16 e 41.

A partir da administração do produto duas vezes ao dia, o diário de ocorrências já registra a observação de uma mudança comportamental dos cães que passaram a apresentar brigas leves e moderadas com diminuição na frequência de latidos, rosnados e uivos e dois dos cães mais agressivos apresentaram-se mais calmos e acessíveis a manipulação dos tratadores. Na segunda medição, realizada no dia 41, já foi possível observar uma diminuição significativa no escore comportamental dos animais, com uma média de 11,58, que foi significativamente menor do que o valor de 15,92 apresentado no dia 16 (p<0,05 pelo Teste T-Student de amostras em par para médias). Já a comparação entre dia 16 e 41 dentro do grupo controle não apresentou diferenças significativas.

A redução do escore de agressividade observada no grupo tratado foi mais expressiva do que no controle (4,7 contra 0,6), tendo sido estatisticamente significante (com p<0,05).

 

Discussão

A leucocitose esperada para situações de estresse manifestou-se nos animais do grupo experimental. Ambos os grupos tiveram suas contagens médias aumentadas na comparação antes x depois do tratamento. Esta observação confirmou-se no teste ANOVA de fator duplo com repetição, que apontou uma diferença significativa entre a comparação antes e depois do protocolo experimental (p<0,05). Pode-se observar uma tendência de contagens menores de leucócitos totais no grupo tratado, quando realizada a comparação entre os valores antes x depois nos dois grupos.

Já o teste t-Student foi capaz de evidenciar uma diferença estatisticamente significativa entre os valores do grupo tratado, na comparação entre antes x depois do protocolo experimental, o que não ocorreu no grupo controle.

Se, conforme colocaram Meyer (1995) e Navarro et al. (1994), um animal sob uma situação de estresse agudo, apresenta um quadro de leucocitose, e em situações de estresse crônico a contagem total de leucócitos geralmente estará mais alta (Kerr, 2003), podemos assumir que a contagem total de leucócitos é um bom indicativo de como o animal está reagindo aos fatores estressantes.

Isto pode ser explicado pela ação tranquilizante descrita por Costa & Tupinambá (2008), que relataram o efeito sedativo da Passiflora incarnata Linné, e sua alta afinidade, in vitro, aos receptores benzodiazepínicos.

Pode-se observar que a redução do escore de agressividade observada no grupo tratado foi mais expressiva do que no controle (4,7 contra 0,6), tendo sido estatisticamente significante (com p<0,05).

 

Conclusão

O presente estudo demonstrou que o produto Fórmula Maracujá® à base de Passiflora incarnata Linnéfoi eficaz como agente redutor de estresse nas condições do experimento.

Vale ressaltar que as condições de um CCZ, apesar de todos os esforços dos seus administradores, são em geral bastante adversas em termos de bem-estar animal e acabam por desencadear um estado significativo de estresse para os animais albergados. A competição constante por espaço e a contínua introdução de novos animais, faz com que seja praticamente impossível o estabelecimento de um grupo social estável, com claras relações de dominância e subordinação, o que é um fator indispensável para a criação/ manutenção de animais em uma situação de baixo nível de estresse.

É razoável supor que, se o produto testado foi capaz de atuar em condições tão desafiadoras, ele seja um agente capaz de promover a redução do estresse e a promoção de bem-estar na maioria das condições clínicas normalmente encontradas na prática diária do Médico Veterinário de pequenos animais.

 

Referências Bibliográficas

COSTA, A. M.; TUPINAMBÁ,D. D. et al. Compostos fenólicos e Vitamina C na Polpa Extraída dos Frutos do Hibrido de Maracujazeiro Azedo BRS Ouro Vermelho. Comunicado Técnico. Planaltina, DF, 2008.

DHAWAN, K.; KUMAR, S.; SHARMA, A. A anti-anxiety studies on extracts of Passiflora Incarnate LinneausJournal of ethnopharmacology, v. 78, p.165-170, 2001.

KERR, M. G. Exames laboratoriais em medicina veterinária – bioquimica e hematologia. 2ed. P. 61-80. São Paulo. Rocca, 2003.

LUESCHER, A. U.; REISNER, I. R. Canine aggression toward familiar people: a new look at an old problem.Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 38, n. 5, p. 1107-1130, 2008.

MEYER, D. Medicina de laboratório veterinária – interpretação e diagnóstico. 11ed. P. 308. São Paulo. Rocca, 1995.

SOARES, G.M. Avaliação de fatores de influência na manifestação da agressividade em cães. Monografia (Doutor em Clínica e Reprodução Animal) – Universidade Federal Fluminense, Niterói – RJ pag. 03 a 12, 2010.

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